Em noite de debates produtivos, o
Arquivo Público de Alagoas (APA) promoveu, na terça-feira (22), sua 37ª edição
do tradicional Chá de Memória. O tema desta vez foi “Delmiro Gouveia, uma
trajetória de um industrial sertanejo”.
O professor-doutor em História,
Edvaldo Nascimento, e o professor José Cícero Correia foram os palestrantes e
debatedores. Nascimento discorreu sobre a vida de Delmiro Gouveia, desde sua
origem, na cidade natal de Ipu, no Ceará, passando pelo período em que atuou
como empreendedor bem-sucedido, no Recife, até sua chegada ao município de Água
Branca, sertão de Alagoas, onde deu início ao processo de desenvolvimento da
região, inaugurando a Fábrica da Pedra e, depois, o complexo de Angiquinho, a
primeira hidrelétrica do Nordeste e a segunda do Brasil.
“A figura de Delmiro no contexto
histórico está para o Nordeste em importância comparada a ícones como Luiz
Gonzaga, o rei do baião”, destacou Nascimento.
Em seguida, o historiador José Cícero
Correia apresentou conceitos sobre o que seria memória e história e abordou o
conteúdo de seu livro “Trabalho, Seca e Capital – da construção da Ferrovia
Paulo Afonso à Fábrica de Linhas de Pedra”, obra que foi lançada no Chá de
Memória.
“Este Chá de
Memória foi bastante interessante, porque aguçou muito a curiosidade sobre a
figura do industrial Delmiro Gouveia para Alagoas. Abriu a visão sobre a
importância dele no contexto do desenvolvimento de toda a região nordestina,
numa época ainda muito remota. O debate mostrou como Delmiro esteve à frente de
seu tempo”, ressaltou a superintendente do APA, Wilma Nóbrega.
Depoimento e poema
O 37º Chá de
Memória foi palco também para o lançamento do livro Revisão Criminal do
Processo Delmiro Gouveia. A publicação acompanha a revisão da condenação de
Róseo Moraes do Nascimento, José Ignácio Pia, conhecido como Jacaré, e Antônio
Félix do Nascimento, os principais acusados do assassinato de Delmiro Augusto
da Cruz Gouveia, em 1917, e cujo aniversário de morte completou 102 anos no
último dia 10 de outubro.
A obra foi um
projeto coordenado e sonhado por décadas pelo desembargador aposentado Antônio
Sapucaia, que faleceu no dia 3 de outubro deste ano. Enquanto jornalista,
Sapucaia foi responsável pela primeira entrevista com Róseo Moraes, em 1968,
que revelou as inúmeras torturas realizadas para que ele confessasse um crime
que não cometeu.
O livro foi elaborado pelo
advogado de defesa dos acusados Antônio Aleixo Paz de Albuquerque (in
memorian), com pesquisas do historiador Moacir Medeiros de Sant’Ana.
A filha de Moacir Santana,
a advogada Ana Sant’Ana, destacou o valor da obra para a sociedade: “É um livro
que nos apresenta claramente, com provas robustas, que houve um erro do
Judiciário alagoano na condenação de três inocentes. E nos apresenta, ainda,
como Delmiro Gouveia faz parte da vida de todos nós alagoanos, apesar de não
ter sido um alagoano”, ressaltou.
No encerramento da
noite, o público foi brindado com a declamação de versos do poeta alagoano de
renome nacional, Jorge de Lima, pelo ator Chico de Assis, que apresentou o
poema “Rio São Francisco”.
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