Autoria de LuDiasBH
Esta foto memorável de René
Burri, tirada em 1960, é
uma das mais fascinantes que já vi. Retrata um dos muitos construtores da
capital federal brasileira, o chamado candango, nome dado aos
operários vindos, em sua maioria, do Nordeste do país, responsáveis pela
construção de Brasília, levando sua família para conhecer a cidade que acabava
de nascer na região Centro-Oeste de nosso país.
Chega a
ser comovente a admiração das crianças, com suas roupas domingueiras, olhando
extasiadas para cima, possivelmente diante de um grande edifício de Brasília. O
maiorzinho deles, à esquerda, enverga todo o pescoço para trás, no intuito de
visualizar o máximo possível. A menininha, com seu vestido branco de babados,
não se mostra menos arrebatada. Chega a tapar a boca para que apenas os olhos
trabalhem. O segundo garotinho, visivelmente surpreendido, talvez pelos poucos
anos de idade, ainda sem uma compreensão maior do que vê, bota a mão na cintura
e encosta-se na mãe buscando segurança, provavelmente pensando: “Vai que essa
coisa não se encontre bem segura e despenque-se sobre mim!”. O pequenino, com
os olhos voltados para baixo, nos braços da zelosa mãe, e recostado em seu
seio, não está nem aí para nada. Pressente que é preciso conhecer outras
coisas, primeiro.
O pai e marido orgulhoso,
metido num velho terno amarrotado, sorri, possivelmente pensando: “Eu ajudei a
construir este mundaréu!”. No braço esquerdo carrega a bolsa da mulher, já com
seu fardo, e na mão direita traz um cigarro. Prende a sua mocinha pelo braço,
deixando visível a aliança, insígnia de homem de família daqueles tempos. A mãe
e esposa, trajando um vestido de tecido fino estampado e de mangas fofas, com
os cabelos jogados para trás e brincos pendentes, traz uma sombrinha aberta com
a intenção de proteger seu pimpolho do forte sol do Planalto Central. Ela olha
encabulada. Apesar de não esboçar um sorriso, deve estar matutando: “E pensar
que meu homem ajudou a construir tudo isso!”.
Ao olhar esta foto, várias
perguntas borbulham em minha mente. O que foi feito desse senhor e de sua
família? Como vive hoje cada uma dessas crianças? O trabalho árduo do pai
beneficiou-as no futuro? O que os governantes do país, que anos após anos
habitam as mansões luxuosas e os gabinetes atapetados e refrigerados de
Brasília, com seus salários insondáveis, têm feito por aqueles de mãos rudes,
como as desse senhor da foto, que ainda assim pensava estar construindo um
grande e mágico futuro para seu país? Seu orgulho terá valido a pena? Os filhos
e netos dos candangos estarão menos sofridos hoje do que estiveram naquela
época? Ou tudo continua como dantes, com os interesses voltados apenas para o
capital? Nas tribunas dos Três Poderes, o ser humano é o foco das atenções ou
estas estão voltadas apenas para o GRANDE CAPITAL, que sempre acaba pousando
nos Bancos? A Justiça que ali finca morada merece realmente ser chamada de tal?
Eis a questão!
O fotógrafo suíço René
Burri (1933-2014)
clicava com a alma tamanha é a beleza das imagens que aprisionava com sua
câmara. Ele trabalhava para a agência “Magnum Photos”, tendo deixado retratos
memoráveis de celebridades. Fotografou em diferentes partes do mundo, tendo com
o Brasil uma longa relação, clicando muitas imagens de nossas metrópoles e de
nosso povo. E a capital brasileira não podia ter ficado fora de suas lentes.
Fotografou-a diversas vezes, inclusive na sua inauguração. Chegou a publicar um
livro, em 2011, no qual reuniu os registros que fez de Brasília.
Nota: imagem copiada de https://br.pinterest.com
Fonte: www.virusdaarte.net
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