Por Jair Clopes
Por volta de oito mil anos antes
de Cristo surgiu na Babilônia a prática de usar pequenas placas de barro com
marcas para se referir a objetos. Esses símbolos registravam principalmente
número de coisas a serem compradas e vendidas como carneiros, cerâmicas e
peles. Peças de barro diferentes se referiam a diferentes objetos ou quantidade
de objetos. A partir daquele momento, os carneiros podiam ser contados mesmo
que não estivessem presentes, o que tornou o comércio e o armazenamento de
estoque muito mais fluídos, muito mais fáceis de serem contabilizados. Foi o
nascimento do que chamamos de números.
No quarto milênio aC, na Suméria,
região que faz parte do hoje vilipendiado Iraque, esse sistema simbólico
evoluiu para a escrita em que um graveto pontudo era pressionado no barro
úmido, A primeira representação dos números era em forma de círculos ou das
unhas dos dedos. Por volta de 2700 aC, o marcador tinha a ponta achatada e as
marcações pareciam pegadas de pássaros, com marcas diferentes representando
números diferentes.
Essa escrita, chamada cuneiforme,
marcou o começo de uma longa história dos sistemas de escrita ocidentais. É
interessante pensar que o início do que viria a se chamar literatura foi uma
mera consequência residual da notação numérica inventada pelos mercadores mesopotâmicos.
Na escrita cuneiforme só havia símbolos para 1, 10, 60 e 3600, o que significa
que o sistema era um mix de base 60 com base 10. Dá para notar alguma
semelhança com nosso sistema de marcação de tempo? Com nossos relógios que
marcam minutos e segundo na base 60, mas os dividem em 10 e submúltiplos? A
razão para os sumérios agruparem os números em múltiplos de 60 já foi descrita
como um dos maiores mistérios não resolvidos da história da aritmética.
Os babilônios que fizeram grandes avanços em matemática, astronomia e
astrologia (inventaram o Horóscopo Planetário do qual falarei em outro texto),
adotaram a base sexagesimal suméria, e depois os egípcios,
seguidos pelos gregos, basearam seus métodos de medida do tempo no método
babilônico – razão para nossos relógios dividirem a hora e os minutos em 60
unidades. Estamos tão acostumados a medir o tempo na base 60 que normalmente
não questionamos esse fato, embora seja algo não explicado.
Contudo, a França depois da revolução, queria passar a limpo tudo que via como
incoerências do sistema adotado até então. Quando a Convenção Nacional, em
1793, introduziu o sistema métrico para pesos e medidas, tentou-se colocar o
tempo dentro dosistema decimal também. Assim, um decreto
estabeleceu que os dias seriam divididos em 10 horas, cada hora em 100 minutos,
cada minuto teria 100 segundos. O horário decimal tornou-se obrigatório em
1794, e nos relógios fabricados na época as horas iam até 10. Mas o novo
sistema não foi assimilado pela população e foi abandonado depois de seis
meses. Na verdade, os relógios que foram fabricados naquela época são
verdadeiras raridades cobiçadas pela tribo dos colecionadores, na qual me
incluo.
Mas, recentemente, em 1998, o conglomerado suíço Swatch lançou o relógio Swatch
Internet Time, que divide o dia em mil partes chamadas “beats”. Eles
venderam os relógios que mostravam uma “visão revolucionária do tempo” por mais
ou menos um ano antes de, constrangidos, retirarem o produto do mercado diante
do fiasco de vendas. Nossa mente está sexagesimada demais
quando se refere ao tempo, não há como desprogramá-la num estalar de dedos.
Trabalhei algum tempo numa empresa de taxi aéreo em Curitiba, onde a marcação de tempo nos relatórios de voo se fazia na base decimal. As horas eram divididas em 100 minutos e assim eram registradas. Confesso que, no começo, além de parecer idiossincrasia ociosa da empresa, tive certa dificuldade em “desprogramar-me” do sistema sexagesimal, transformar cada fração de seis minutos em dez minutos me confundia um pouco. Depois, passou a parecer natural uma marcação decimal tão mais divisível e multiplicável para atribuir valores em dinheiro pelas horas voadas.
Trabalhei algum tempo numa empresa de taxi aéreo em Curitiba, onde a marcação de tempo nos relatórios de voo se fazia na base decimal. As horas eram divididas em 100 minutos e assim eram registradas. Confesso que, no começo, além de parecer idiossincrasia ociosa da empresa, tive certa dificuldade em “desprogramar-me” do sistema sexagesimal, transformar cada fração de seis minutos em dez minutos me confundia um pouco. Depois, passou a parecer natural uma marcação decimal tão mais divisível e multiplicável para atribuir valores em dinheiro pelas horas voadas.
Quanto à marcação numérica dos primeiros mostradores, o uso de algarismos
romanos foi a opção preferencial porque conferia certo charme aos relógios.
Normalmente era usada a notação usual dos numerais romanos: I, II, III, IV, V,
VI, VII, VIII, IX, X, XI e XII. Contudo, a marcação da quarta hora passou a ser
IIII em consequência de um acidente ferroviário na Inglaterra no século
dezenove. Consta que o encarregado de uma estação confundiu o VI com o IV e
informou através de telégrafo, como era costume, o horário errado que o trem
deveria sair. Em sentido contrário foi despachado outra composição pela mesma
linha supondo que, pelo horário informado, o comboio só sairia duas horas
depois, foi uma colisão frontal que resultou em dezenas de mortos e feridos. As
autoridades inglesas resolveram então mudar os mostradores para evitar nova
confusão, assim, até hoje ainda temos relógios com marcação IIII ao invés de IV
para informar a quarta hora.
De qualquer forma, com ou sem números romanos, os relógios são mecanismos que
cativam os seres humanos desde sua invenção, atribuída ao arcebispo de Verona
chamado Pacífico no ano 850 de nossa era. Confesso que sou fascinado por
relógios mecânicos, os coleciono e agora estou à procura de alguns exóticos
como relógios de mecanismo totalmente de madeira. Algarismos e relógios são uma
combinação irresistível.
Fonte: www.jairclopes.blogspot.com.br
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