Carlos Petrocilo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fundado em 1921, o Figueirense
mudou seu modelo de gestão de associação para clube-empresa em agosto de 2017 e
cedeu 95% do seu controle para investidores. Em troca, a parceira Elephant
Participações S/A sanaria dívidas de R$ 77 milhões entre impostos, fornecedores
e ações trabalhistas.
Dois anos depois, o time catarinense está na zona de
rebaixamento da Série B do Campeonato Brasileiro, com 32 pontos, a sociedade
com a Elephant foi rompida e a dívida passou para R$ 110 milhões, segundo o
presidente da agremiação, Francisco Assis Filho.
Com 35 pontos, logo acima do Figueirense na tabela, está o
Londrina, outro clube-empresa. Das 20 equipes da segunda divisão, 5 (25%)
deixaram de ser associações e adotaram a gestão empresarial nos últimos anos.
O caso mais bem-sucedido é o do Bragantino, líder com 62
pontos e muito próximo de garantir o acesso para a Série A. Botafogo-SP e
Cuiabá, fora do G4 no momento, ainda têm chances de subir.
Cada time na Série B recebe R$ 6 milhões com a venda dos
direitos de transmissão, a principal fonte de renda para eles. Esse valor é
suficiente para honrar, no máximo, três meses de salários do elenco do
Bragantino. A Red Bull, empresa de bebidas energéticas sediada na Áustria, é
quem banca mais da metade das despesas.
A multinacional austríaca, que até o começo deste ano
investia apenas no time Red Bull, com sede em Campinas, decidiu comprar o
Bragantino por R$ 50 milhões. Há três anos, o clube estava rebaixado à Série C
e disputava a Série A-2 do Campeonato Paulista.
O aporte dos austríacos, que pagam até R$ 9 mil como “bicho”
por vitória, permitiu a montagem de um elenco que sobra na segunda divisão
nacional. Para 2020, o Bragantino tem os planos de se manter na elite e fazer
uma ampla reforma no estádio Nabi Abi Chedid.
O Botafogo de Ribeirão Preto deu um salto após receber um
aporte inicial de R$ 8 milhões da empresa Trex Holding, que detém 40% das ações
do clube. As decisões são tomadas pelo conselho de administração, composto por
7 membros, sendo 3 indicados pelo Botafogo, dois pela Trexx e outros dois
independentes.
“Não é fácil implementar o novo modelo, justamente porque é
muito diferente do que estamos acostumados no Brasil. Mas as vantagens são os
recursos financeiros a custo menores, gestão técnica com regras de governança e
distante do ambiente político”, afirma o gestor da S/A Gustavo Vieira de
Oliveira, que é filho de Sócrates.
O aporte de R$ 8 milhões representou 40% do valor da marca
Botafogo, avaliado na ocasião em R$ 20 milhões. O contrato foi assinado em maio
de 2018 e, no final do ano, o clube conquistou o acesso à Série B. Em 2019,
reformou o estádio Santa Cruz e vendeu naming rights para a Eurobike, rede de
concessionárias da BMW.
O Cuiabá chegou à segunda divisão ao subir junto com o Botafogo,
em 2018. Fundado em 2001 por Gaúcho, ex-atacante de Palmeiras e Flamengo, o
Cuiabá Esporte Clube LTDA foi adquirido em 2009 pelos irmãos Dresch,
empresários do ramo de borracha que já patrocinavam o time.
O clube está registrado na Receita Federal com capital social
de R$ 10 mil e tem como sócios Alessandro Dresch e Cristiano Luiz Dresch.
Na outra ponta da tabela, o Figueirense tem sido o principal
exemplo negativo do modelo. No dia 20 de agosto, os atletas do time catarinense
se recusaram a entrar no gramado, por causa de salários atrasados, e a equipe
perdeu para o Cuiabá por WO.
O acordo entre o Figueirense e seu investidor inicialmente
seria válido por 20 anos. A Elephant teve direito aos lucros da sociedade, além
de assumir ativos e passivos. Para sanar o passivo, segundo Assis Filho, ficou
acordado que a empresa destinaria 10% de toda a arrecadação (com bilheterias,
programa sócio-torcedor, cotas de televisão, entre outros).
“A empresa não destinou nenhum valor para liquidar ou
amenizar a dívida e não fez investimentos no futebol. Quando reassumimos, o
clube não tinha nenhum patrocínio. O gestor se limitava a fazer empréstimo e
vender jogadores da base”, disse o dirigente.
A reportagem não localizou o Cláudio Honigman, representante
da Elephant.
Assis Filho afirma que, diante da dívida do Figueirense em
2017, era impossível acreditar que o clube sobreviveria sem um investidor. A
agremiação continua registrada na Receita Federal como uma empresa limitada, à
procura de um novo sócio, enquanto acompanha as discussões no Congresso sobre
os incentivos ao modelo.
O senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) propõe uma estrutura
específica, a Sociedade Anônima do Futebol. A redação da lei define que os
clubes teriam que recolher 5% do seu faturamento mensal, uma cobrança única
referente a Imposto de Renda, PIS/Pasep, Contribuição Sobre Lucro Líquido e
Cofins.
O deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) elabora uma proposta para que
as entidades tenham incentivos, como refinanciamento de dívidas com o governo e
parcelamentos na área cível e ações trabalhistas, desde que adotem modelos
conhecidos no mercado, como a S/A e LTDA.
Fonte: www.diarioinduscom.com